Fim da história... De novo!
Eu que fui (aliás, a todos) é que ao fim é ao cabo pareço o desinformado e desinformador. Porque o que escrevi aos leitores a respeito do Fórum Social Mundial é exatamente o inverso do que a imprensa tradicional brasileira resolveu adotar como a verdade deste evento que aconteceu em Nairóbi, Quênia.
Já haviam me dito que a cobertura do FSM estava pífia no Brasil. Mas após chegar, vi que ela estava, como de costume, orientada. Quase todas as matérias tinham clara intenção de desmoralizar o evento e tratá-lo como um moribundo.
O jornalista Clovis Rossi, de Davos, resolveu tratar do Fórum Social Mundial. O título do artigo publicado na FSP, em 31 de janeiro: “Fim da história, de novo?”. Dispensável discutir o conteúdo.
O Fórum Social Mundial é um processo, não um evento de bacanas. Ele é repleto de contradições e é feito de sucessos maiores e menores. E também de problemas e equívocos e tentativas de superá-los. Mas impossível desconsiderar que em apenas seis anos foi fundamental para a construção de uma rede de movimentos sociais que se tornaram a “potência” contraponto à hegemonia norte-americana.
Não é a Europa nem a China que fizeram o outro lado mais forte da política bushista. O que incomoda as águias republicanas é o que se convencionou chamar de sociedade civil planetária. Quem disse isso, leitor, foi o New York Times. Vá-la que alguns coleguinhas desconsideram a opinião do que assina, mas já que tem apego pelo que pensa o suposto centro do poder, poderiam ao menos ler o NYT.
No Quênia, anotem os jornalistas que adoram levar bola nas costas, essa tal sociedade planetária começou a construir uma rede envolvendo entidades dos cinco continentes para discutir a questão da água. Não é pouco. Daqui a algum tempo estarão realizando atos, movimentos, protestos etc. E interferindo nos rumos do debate a respeito dessa questão. E aí alguém vai perguntar, mas o que o FSM tem a ver com isso? Como hoje fazem de conta que o FSM não tem nada a ver com o crescimento do cooperativismo, particularmente dos projetos de economia solidária. Ou da ampliação do movimento por softwares livres.
Quarenta e seis mil pessoas estiveram no Quênia, em Nairobi. É pouco? Quando qualquer outro movimento na história planetária conseguiu essa façanha? Decidiu-se para o ano que vem dois dias de mobilizações em todas as partes. Isso é um retrocesso? Não seria o caso de ao menos esperar para ver o que vai acontecer em 2008. E se 10 ou 15 milhões forem às ruas levando seus protestos e lutas?
Quanto aos rumos do FSM, se deve ou não mudar em alguns aspectos, isso é outra história. Eu tenho dúvidas. De qualquer forma, isso não tem nada a ver com fim da história. E vou discutir em outras notas, não nessa. Aliás, se o leitor quiser contribuir para esse debate, é bem-vindo.
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