A luta da água mostra a força da construção de redes
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É curioso como, contra todas as evidências positivas, alguns ainda insistem em afirmar que o processo do FSM está fadado a torná-lo apenas um evento sem conseqüência. Além do tema da Aids, que por conta da situação africana tem atraído muita gente, principalmente do Continente, outro que mostra um impressionante crescimento e vitalidade é o debate a respeito da água.No primeiro FSM em Porto Alegre o italiano Riccardo Petrella era uma voz quase solitária a insistir para que essa fosse uma das preocupações principais do evento. Hoje, entre os mais painéis concorridos, aqui no Quênia, como já havia sido na Índia e em outras edições de Porto Alegre, estão os que debatem o futuro da água no planeta.
Por que isso vem acontecendo? Entre outras coisas porque o FSM enquanto evento foi fundamental para que a rede de movimentos que tem interesse na questão se ampliasse e ganhasse força planetária.
E, para aqueles que acham que temáticas como essa, de caráter não-político geral (pelo menos em seu sentido partidário), não podem ser base de movimentos maiores, a eleição ode Evo Morales na Bolívia, deve muito ao movimento contra a privatização da água em Cochabamba. Em 1999, o então governo local havia decidido entregar a gestão do abastecimento e saneamento à empresa transnacional Bechtel. Em abril de 2000, o povo tomou a cidade e exigiu a saída da empresa do país e a volta do controle da água para as mãos do Estado. Foi ali o primeiro movimento cidadão em que houve aliança da base indígena com o movimento social urbano.
União Européia em debate
Outro debate que também está forte aqui na África e que toca profundamente o futuro continental é o que diz respeito ao acordo de livre comércio entre o mercado comum europeu e a o bloco africano. Os movimentos sociais estão construindo uma aliança inédita neste FSM voltada à luta contra o acordo.
Ontem, líderes de associações de camponeses de praticamente de todo o Continente apresentavam suas preocupações a respeito, principalmente no que diz respeito à impossibilidade, segundo eles, de enfrentar a concorrência européia.
No Oeste Africano, por exemplo, 85% da base de produção agrícola é resultado de pequenas propriedades. Elas têm sido dizimadas com a liberação da importação e isso tem causado enormes dramas sociais para a população local.
Os camponeses estão agendando uma grande manifestação continental para o dia 1º de maio. Nesta data os ativistas latinos dos EUA prometem realizar um protesto ainda maior do que o ocorrido no ano passado, quando surpreenderam o mundo reclamando direitos iguais a trabalho e a benefícios sociais naquele país.
Mesmo com todas as dificuldades operacionais que este FSM apresenta e com algumas questionáveis decisões encaminhadas pelo secretariado da organização local, começa a ficar evidente que ele deve ter um importante papel para que os movimentos sociais locais comecem a atuar conjuntamente. “Estive com muitos líderes sociais africanos nesses dias e eles estavam muito felizes. A maioria não se conhecia e se vê que eles agora parecem ter sentido que têm muito mais possibilidades se atuarem conjuntamente”, afirmou ontem o professor Boaventura de Souza Santos.
Primeiros números
Ontem foram divulgados os primeiros números do FSM, segundo a organização inscreveram-se 46 mil pessoas e os gastos com a estrutura do evento ficaram em 3 milhões de dólares.
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