________

segunda-feira, janeiro 22

Vícios importados

Muitas das organizações não-governamentais africanas têm mais relação com o universo dos financiadores internacionais (agências e fundações européias e norte-americanas) do que com a realidade local.

As dificuldades reais da população local causadas pela pobreza, pela fome e pela Aids atraiu a atenção de muitas ONGs transnacionais, que se instalaram aqui junto de seus modelos. E, consequentemente, de seus vícios.


Foto: Valter Campelo/ABr

Diferente dos estandes de artesanato, os de alimentação foram alugados a
preços muito elevados para o padrão africano, o que garantiu quase
exclusividade ao Hotel Windsor, que cobra 8 dólares (20 reais) por um prato de comida.

Por exemplo: algumas lideranças são contratadas e recebem altos salários para discutir as questões locais, mas passam mais tempo em viagens pelo mundo para tratar desses problemas do que em atuação nas bases.

De algum jeito o FSM do Quênia tem sido importante para revelar ao mundo essas contradições.

O movimento de jovens que questionou, de forma muito correta, os altos preços das inscrições e da alimentação para os quenianos mostra o quanto. A organização queniana do FSM cobrou caro pelos estandes voltados à alimentação, o que provocou um quase-monopólio para o Hotel Windsor, de padrão alto. Um bife com batatas fritas custa quase 8 dólares, próximo a 20 reais. Para os estrangeiros, que já chegaram até aqui, não é tão assustador. Para os quenianos, segundo Martin Ndungu, participante do evento, um verdadeiro assalto.

Em suma, enquanto os estrangeiros e os ongueiros bem-remunerados do movimento social africano comem seus bifes com fritas, os quenianos se viram com o que podem. Mas discutem um outro mundo possível. O que não é pouco.

Como o FSM nunca passa sem deixar marcas, a troca de experiências desses dias entre lutadores locais e estrangeiros pode vir a ser fundamental para modificar a perspectiva da luta local.