O exemplo tocante dessas mulheres do Quênia
A Kenya Network of Women with Aids (Kenwa) é uma das muitas organizações africanas, neste caso quenianas, que surgem a partir da disposição de luta de gente simples, muitas vezes com nível educacional bastante baixo, estrutura quase zero, mas uma enorme fé e disposição para construir o que no FSM se convencionou denominar de Outro Mundo Possível.
Imagine o Quênia em 1993: a Aids chegando de maneira avassaladora. Cinco mulheres portadoras do HIV são discriminadas como todas as outras também portadoras do vírus. Elas decidem reagir e fundam uma organização para elas e para outras tantas mulheres que são rejeitadas por suas famílias. Ser soropositivo até então era sinônimo de sujeira, pecado mortal e a condição era tida como exclusividade de gays e prostitutas.
Elas tocaram o barco sem ter sequer se tornado uma ONG, o que só ocorreu em 1998. Hoje, em 2007, a Kenwa atende aproximadamente 4.000 mulheres e 1.000 crianças órfãs portadoras do HIV.
Foto: Juliana Di Thomazo
Rosemaru Tollo, uma das responsáveis pelo escritório central,
explica como funcionam as oito casas espalhadas
principalmente por Naiorobi. As mulheres atendidas recebem
atendimentos médicos básicos, além de apoio psicológico e alimentar
explica como funcionam as oito casas espalhadas
principalmente por Naiorobi. As mulheres atendidas recebem
atendimentos médicos básicos, além de apoio psicológico e alimentar
Fomos na sexta-feira (19) à sede da entidade para conhecer o trabalho. Impressiona a simplicidade do local, a rusticidade do espaço onde uma ação solidária de tamanha proporção se realiza. A sede central fica num um prédio velho, bastante precário, cujas instalações comerciais da parte de baixo são destinadas a uma oficina mecânica e uma borracharia. Os pneus ali jogados na calçada de terra, moldam o cenário do qual também fazem parte dois carros que funcionam como ambulâncias da Kenwa.
Rosemaru Tollo, uma das responsáveis pelo escritório central, explica como funciona a entidade. São oito casas como essa, espalhadas principalmente por Naiorobi. As mulheres atendidas recebem atendimentos médicos básicos, ficando às vezes internadas nessas casas. O mesmo ocorre com os filhos ou órfãos de mulheres atendidas. Além do acompanhamento clínico, têm apoio psicológico e alimentar, recebendo uma cesta básica quando necessário, o café da manhã e um almoço.
Além disso, o Kenwa se preocupa em atender pacientes que não contam com apoio familiar nas suas residências e que precisam, por exemplo, de cuidados com a sua higiene pessoal.
No exato momento que Rosemary contava isso, veio-me à mente um pedido de Joana Manoela, fundadora do Kulima em, Maputo, Moçambique. Ao fim de nossa conversa ela me disse: “você não pode ver se consegue aquelas máquinas de fazer fraldas para a gente? Será que nenhuma entidade no Brasil nos ajudaria com isso? Isso mudaria muita coisa aqui. Porque um dos nossos maiores problemas com os pacientes com HIV na comunidade é a higiene pessoal. Se tivéssemos essa máquina de fazer fraldas... Eles não têm ninguém às vezes para trocá-los. A gente tem que fazer isso e lavar os panos depois...” Ela conheceu a maquina pelos programas de TV brasileiros que são transmitidos em Maputo.
Além desse apoio básico, a Kenwa também trabalha com micro-crédito para que essas mulheres possam desenvolver alguma atividade econômica, já que não conseguem trabalho formal. Os empréstimos vão de 500 schillings a 3.000 schilling ( 8 a 40 dólares), segundo Rosemary.
Pergunto, então: "é possível desenvolver um negócio com isso?" Ela responde: “Sim, elas fazem alguma coisa para vender ou compram para revender e vão levando. As coisas às vezes se desenvolvem muito bem, mas aí a doença as toca mais fortemente e o negócio acaba. Mas, para nós, isso não é um problema, o que nos importa é a melhora da auto-estima, é resgatar a luta pela vida.”
Entre os adultos infectados na África Subsaariana, 57% são mulheres. No Quênia, em 2002, de 2,5 milhões de infectados numa população de 30 milhões à época, 1,4 milhão eram mulheres. As mulheres organizadas em torno da Kenwa estão com uma campanha, o lema é Give me a chance (Me dê uma chance).
Para conhecer melhor o projeto: www.kenwa.org.
1 Comments:
Belo trabalho o da Kenwa. Imagino que a aids vá ser o grande tema do FSM, o que acontecia com limitações nas edições anteriores. E olha que na Índia a contaminação pelo HIV é das que mais crescem no mundo...
boa sorte na cobertura
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