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segunda-feira, janeiro 22

A tragédia da Aids traz uma nova militância na África

A pandemia da Aids, que está desestruturando o tecido social africano e demolindo a rede familiar de solidariedade, já que invariavelmente não ataca apenas um membro da família, pode também vir a ter um papel articulador de uma nova sociedade civil no continente.
Valter Campanato/ABr

Coalizão de movimentos feministas quenianos fazem manifestação
contra a infecção de HIV na África. No cartaz, elas pedem que a pandemia
se transforme em oportunidade de desenvolvimento.

Neste FSM, a presença dessas diferentes organizações não-governamentais é o que mais chama a atenção. Elas têm como guarda-chuva temático o enfrentamento da Aids, mas têm especificidades variadas. Há as que trabalham fundamentalmente o tema a partir do universo feminino – e são muitas. Outras debatem o tema a partir das responsabilidades dos Estados. Algumas discutem a perversidade de certos aspectos religiosos que acreditam na defesa da monogomia, por exemplo, como única solução para enfrentar o vírus.

As entidades de caráter feminista, tratam a luta do enfrentamento do vírus a partir de um novo contrato entre homens e mulheres. Batem pesado na tradição patriarcalista africana, pedem a resistência feminina ao casamento arranjado, exigem que o Estado proteja as mulheres nos seus direitos humanos, entre eles no combate a violência masculina e ao direito feminino de exigir do parceiro o uso a camisinha.

As organizações que discutem a Aids a partir da ausência de políticas públicas denunciam, por exemplo, que em muitos dos países africanos se gasta muito com campanhas para que as pessoas usem preservativos, mas não há distribuição gratuita, seja porque há desvio de recursos, seja pela pressão de igrejas locais, de diferentes credos, contrárias ao seu uso.

Um dos movimentos que ganharam força neste FSM também está relacionado à questão do enfrentamento da Aids, embora não exclusivamente. A luta é para que todos os países do continente reservem 15% do orçamento público para a área da Saúde.

Mas talvez o componente mais interessante da luta contra a Aids na África seja que ela tem constituído um novo espaço de construção de luta social e política. E os movimentos surgidos nesse processo têm base social real e partem da luta que começa pelo debate a partir do vírus para outros aspectos relacionados a ele.

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